quarta-feira, 8 de abril de 2009

A INCLUSÃO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA NA ESCOLA - UMA VISÃO PSICOLÓGICA

A integração dos portadores de deficiências tem sido a proposta norteadora e dominante na Educação Especial, direcionando programas e políticas educacionais e de reabilitação em vários países, incluindo o Brasil.
Elaborada em 1972, na Educação Especial, por um grupo de profissionais da Escandinávia, essa proposta baseou-se no princípio de normalização que apregoa que todas as pessoas portadoras de deficiências têm o direito de usufruir de condições de vida o mais comum ou “normal” possível, na sociedade em que vivem garantindo assim seu direito de ser diferente e de ter suas necessidades reconhecidas e atendidas pela sociedade.

A inclusão exige a transformação da escola, pois defende a inserção no ensino regular de alunos com quaisquer déficits e necessidades, cabendo às escolas se adaptarem às necessidades dos alunos. Ou seja, a inclusão acaba por exigir uma ruptura com o modelo tradicional de ensino poder integrar o portador de deficiência à sociedade e poder se desenvolver e exercer sua cidadania.

Na prática inclusiva, no entanto, percebe-se que mesmo aqueles alunos que se encontram inseridos no sistema regular de ensino continuam sendo isolados dos seus companheiros de
turma não-deficientes e, de certa forma, rejeitados pela escola e professores. Isto tolhe a oportunidade deles desenvolverem amizades e de se socializarem.

Sabe-se que uma das formas de desenvolvimento psicológico do ser humano é por meio das brincadeiras entre os colegas de escola, pois é o grupo o principal protagonista na determinação da personalidade adulta de uma criança e é seu principais agente socializador. É entre seus colegas de grupos, depois da família, na percepção das semelhanças entre o eu e o outro, que a criança inicia seu processo de identificação, processo este fundamental para construir uma imagem de si mesmo. E uma boa auto-imagem que a pessoa constrói , define seu amor próprio e segurança para aceitar-se como elemento querido de um grupo e poder construir uma verdadeira cidadania.

No entanto, há algo complicado neste convívio social: a percepção de que nem todos somos semelhantes. Assim, as diferenças dentro do grupo tendem a manifestar reações muito agressivas entre os “iguais”. Para manter a identidade e a coesão do grupo, as crianças
usam diversos métodos, às vezes cruéis, de exclusão das ditas crianças diferentes. Surgem, assim, as críticas e ridicularizações dos “bobos ou palhaços” do grupo, que as vezes se tornam o “bode expiatório” ou o BULLYING do grupo (pratica perversa entre os jovens para humilhar, intimidar, ofender, agredir estigmatizam e traumatizam crianças e jovens).

Existe um texto de Freud, no seu livro Mal Estar da Civilização, 1929-30, chamado narcisismos das pequenas diferenças. Nele, Freud examina as contradições produzidas por uma cultura que exige a repressão (o recalque) das tendências destrutivas /agressivas dos sujeitos em nome da felicidade coletiva. O narcisismo tolera mal a convivência com o diferente – mas suporta menos ainda o confronto com o minimamente diferente, ou seja aquele que ameaça o campo das identificações - daí o caráter totalmente reativo ao mandamento “ama ao próximo como a ti mesmo”. Aqui ele, ironicamente, diz que se o altruísmo fizesse parte da natureza humana não teria sido necessário se inventar um mandamento para nos convencer a amar ao próximo.

Supomos então que o ser humano precisa de leis e, principalmente, de EDUCAÇÃO, para desenvolver sentimentos mais nobres e não se destruir enquanto civilização. No caso da inclusão do portador de deficiências nas escolas, este projeto estará fadado ao fracasso, se a própria escola, seus diretores e professores não estiverem conscientes de seus próprios preconceitos e fizerem um trabalho psicológico de elaboração deles.

A aceitação do diferente é trabalhoso e exige uma auto observação e análise de seu próprio narcisismo. Sabemos que o narciso só aceita o espelho, o que lhe é semelhante e isto é uma das principais causas da violência, ódios e guerras entre os humanos. Ver e aceitar o outro diferente de si mesmo, é um trabalho hercúleo, porém necessário para o exercício da cidadania, o enriquecimento de si mesmo enquanto sujeito e evolução do ser humano. Este trabalho, de altruísmo e amor fraterno, deve começar em casa na relação com os pais, depois na escola, com professores conscientes do sentido de alteridade, e depois na sociedade como um todo.

Pressupõe-se que a proposta de inclusão escolar de crianças com necessidades educativas especiais procura evitar os efeitos deletérios do isolamentosocial dessas crianças, criando oportunidades para a interação entre as crianças, inclusive como forma de diminuir o preconceito. Não obstante, nada disso funcionará, se o próprio educador não for o primeiro a dar o exemplo de aceitação do diferente.




Marisa Queiroz

sábado, 4 de abril de 2009

ASSÉDIO MORAL: A VIOLÊNCIA PERVERSA


Você já foi vítima de descriminação em seu trabalho, na escola, família ou em algum meio social? Todo mundo, de alguma forma, já experimentou algum tipo de discriminação ou assédio humilhante deste tipo. Existem nas relações humanos, muitas formas de competição: uma delas é a competição perversa ou patológica, que se apresenta sob forma de crueldade e violência sobre a dignidade do outro.

O assédio moral constitui-se de uma invasão perversa, progressiva e violenta no território psíquico do outro. É possível destruir alguém com palavras, olhares, subentendidos e levá-la a um verdadeiro assassinato psíquico. O objetivo é levar a vítima à confusão nas informações e na impotência. Ou seja, para desestabilizar o outro, o agressor perverso passa a zombar de suas idéias, ridicularizar seus desejos, denegri-lo, debochar de seus pontos fracos e fazer alusões desabonadoras a seu respeito.
O agressor perverso tem, geralmente uma personalidade narcísica e é movido pela inveja, cujo objetivo é a apropriação do poder e do que é do outro. Do encontro do desejo de poder com a perversidade nasce a violência e a perseguição Não obstante, vale dizer que nem todos os traços narcísicos de personalidade – egocentrismo, necessidade de ser admirado, intolerância à crítica, etc, - podem ser considerados patológicos. Estes se distinguem dos perversos por serem ocasionais e seguidos de remorso ou arrependimento. O perverso, geralmente, não apresenta nenhum sinal de arrependimento ou culpa, pelo contrário, ele se vangloria e sente prazer com o sofrimento alheio.

A vítima é escolhida pelo perverso pelos seus pontos fracos e é justamente o que ele ataca, o ponto vulnerável do outro. O agressor procura no outro o embrião da auto-destruição. Com calúnias, mentiras, manobras invejosas, leva ao descrédito a vítima de tal modo que ela percebe o que se passa sem poder se defender.
No mundo do trabalho, nas universidades, nas instituições, as formas de assédio, são muito estereotipadas e igualmente destrutivas. O assédio aqui é entendido como toda conduta abusiva que pode trazer danos à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa.

Nas escolas de 1º e 2º graus, tem sido detectado um número muito grande de crianças e jovens vítimas de agressores. É o fenômeno do “bulling” que tem como característica a agressão sistemática e progressiva sobre uma criança que acaba sendo um ‘saco de pancadas’ e motivo de gozação de seus colegas. Ele vai se tornar o mais fraco, o inferiorizado e o foco de ‘tudo de ruim’ para os colegas. Estudos comprovam que essas crianças têm uma auto-estima muito baixa e não tem muitos recursos internos de auto proteção. Geralmente essas crianças não encontram (por alguma razão) um vínculo de confiança e proteção em seus lares e sofrem caladas as humilhações e agressões. Passam a desenvolver sintomas fóbicos, associados de pavores noturnos, baixo rendimento escolar, gagueira, etc.

A violência perversa é muitas vezes negada ou banalizada, nas escolas, instituições e na família. A criança fica sem saber a quem pedir ajuda e começa a achar que ela é humilhada por não merecer amor, por ser inferior ou por não ser importante. Cresce com muito medo do mundo e por vezes, se paralisa na vida. Outras, podem chegar a romper um surto psicótico, e numa fúria paranóica, cometer assassinatos ou suicídios.

A família tem um papel fundamental no sentido de orientação e proteção de seus filhos. É preciso educá-los para que respeitem os outros e para que saibam se defender de violências perversas desse tipo em qualquer ocasião. O vínculo de amor e confiança é o que vai construir uma estrutura emocional forte na criança para que ela tenha segurança em si e amor próprio suficiente para não se tornar vítima de tais agressores.

Quanto às instituições, e ao espaço público, é necessário que haja uma conscientização fraterna de proteção às vítimas de assédio moral e a necessidade de intervenção do agressor, já que a legislação a respeito é ainda muito tolerante e omissa. É importante que o papel daqueles que têm o poder de decisão nas Instituições, seja o de zelar para que a pessoa humana seja respeitada em todas as situações.

Marisa Queiroz